Um novo estudo aponta para que a forma como a mente, o corpo e o cérebro percepcionam e respondem ao stress pode estar diretamente ligada ao desencadear de doenças cardiovasculares
Por Grace Bullock | Forrest Cavale (foto)
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Há muito que o stress crónico aparece ligado a acidentes cardiovasculares, como enfartes e AVC. Um novo estudo (Relation between resting amygdalar activity and cardiovascular events: a longitudinal and cohort study) publicado na revista científica The Lancet sugere que o aumento da atividade da amígdala, o centro de processamento emocional do cérebro, pode fazer aumentar os riscos de acidentes cardiovasculares. Este facto abre a porta a novos estudos sobre terapias alternativas, entre elas a meditação mindfulness, prática conhecida por fazer aumentar o relaxamento e a resiliência ao stress, bem como pela diminuição de conhecidos factores de risco alteráveis, como hipertensão, colesterol elevado, inactividade física e diabetes tipo II.
A amígdala é uma região no cérebro particularmente susceptível ao stress. O aumento da sua actividade tem vindo a ser associada à depressão, ansiedade, stress pós-traumático e regulação emocional, e ainda como um factor de risco de doenças do coração.
Além do stress, os estudos mostram que a inflamação arterial é um reconhecido factor de risco de acidentes cardiovasculares. Estudos anteriores realizados em animais apontam igualmente para uma ligação entre stress crónico e alterações da medula óssea e da atividade do baço, muito embora ainda não tenham sido testadas em humanos.
Ligação entre stress,
atividade da amígdala
e doença cardiovascular
Neste estudo, 293 voluntários com idades superiores a 30 anos (55 anos, em média) sem qualquer histórico de doenças cardiovasculares ou de cancro foram submetidos a tomografias para registar a actividade do cérebro, baço e medula óssea e detectar possíveis inflamações arteriais, tendo sido posteriormente seguidos durante 3,7 anos, em média.
Destes, 22 foram diagnosticados com doenças cardiovasculares durante o período de follow up (2,7 a 4,8 anos). Análises revelaram que o aumento da actividade da amígdala foi associada a aumentos de inflamações arteriais, da actividade da medula óssea e a um maior risco de doenças cardiovasculares.
Um exame envolvendo parte dos participantes mostrou ainda uma correlação entre stress percepcionado e risco de doenças do coração. Mais especificamente, valores psicométrico de stress percepcionado mais elevados foram significativamente correlacionados a maior actividade da amígdala, inflamação arterial, níveis mais elevados de proteína-C reactiva (CRP), um biomarcador de stress.
Trata-se do primeiro estudo a fornecer evidências sobre a correlação entre stress percepcionado, aumento da activação da amígdala, factores de risco de doenças cardiovasculares e o surgimento de doenças do coração. Estes dados sugerem que a forma como a mente, corpo e cérebro percepcionam e respondem ao stress pode ter uma influência directa no desencadear de doenças cardiovasculares.
Mindfulness reduz stress
e risco de doenças do coração
A publicação, em 2016, de uma meta-análise no boletim científico Complementary Therapies in Clinical Practice, forneceu evidências bastante convincentes de que práticas como a meditação e o yoga são altamente benéficas na redução do stress crónico. O artigo associa a prática contemplativa regular à redução da pressão arterial e dos valores do colesterol, diminuição da circunferência abdominal e do ritmo cardíaco e respiratório, sugerindo que estas práticas podem ser benéficas para aqueles que procuram prevenir doenças do coração ou melhorar a sua condição.
A eficácia de programas mindfulness, como os da Redução de Stress Baseado em Mindfulness (MBSR) e da Terapia Cognitiva Baseada em Mindfulness (MBCT), na redução dos factores de risco associados às doenças cardiovasculares são hoje uma evidência científica, com estudos publicados que demonstram ligações entre a prática mindfulness e a redução de factores de risco relacionados com doenças do coração, tais como stress crónico, hipertensão arterial, controlo de diabetes tipo I e II, tabagismo e obesidade por má alimentação. Tal pode ser atribuído ao facto de práticas como os da meditação fazer aumentar o controlo atencional, a regulação emocional e o autoconhecimento, todos eles factores importantes de um estilo de vida saudável.
Embora seja necessário mais investigação para se perceber melhor como e porquê a prática mindfulness é benéfica à saúde cardiovascular, estes estudos sugerem que as práticas contemplativas contribuem, não apenas para uma diminuição do risco de doenças ligadas ao coração, como para uma melhoria do estado geral de saúde.
- Tradução para português por Mindmatters