Para reduzir défice cognitivo pré-Alzheimer vá para o tapete de yoga
Estudo da UCLA diz que o yoga e a meditação são ainda mais eficazes do que os exercícios de dinamização da memória
Por Meg Sullivan | Alvarez/Stock (foto) in UCLA Newsroom | 10 de maio de 2016 ver artigo original
Paz de espírito e flexibilidade corporal poderão não ser os maiores benefícios oferecidos pelo yoga e meditação, de acordo com uma recente investigação conduzida por uma equipa de neurocientistas da Universidade da Califórnia (UCLA).
O estudo constatou que um curso de yoga e meditação de três meses ajudou a minimizar os problemas cognitivos e emocionais que precedem muitas vezes a doença de Alzheimer ou de outras formas de demência, e que a sua prática era ainda mais eficaz do que os exercícios de treino de memória, os quais têm sido considerados como a norma padrão para lidar com o défice cognitivo ligeiro.
“O treino da memória mostrou-se equivalente ao yoga-meditação em termos de melhoria da memória, mas o último mostrou ainda outros benefício, uma vez que também ajuda em relação ao estado de humor, à ansiedade e a lidar melhor com a doença”, refere Helen Lavretsky, uma das responsáveis do estudo e professora residente do departamento de psicologia da UCLA.
As pessoas com défice cognitivo ligeiro têm duas vezes e meia mais possibilidades de desenvolver a doença de Alzheimer ou outras formas de demência.
Transformar a sabedoria empírica em provas
O estudo, publicado originalmente em maio deste ano no Journal of Alzheimer’s Disease, é o primeiro a comparar resultados do yoga e meditação com os exercícios de memória, os quais compreendem desde palavras-cruzadas a programas informáticos. O estudo compreendeu 25 participantes, todos com mais de 55 anos, e mediu alterações não apenas comportamentais mas também ao nível da atividade cerebral.
“Em termos históricos e analíticos, havia a ideia do yoga ser benéfico em relação a um bom envelhecimento, mas agora é a demonstração disso a nível científico”, disse o coordenador do estudo, Harris Eyre, doutorando da Universidade de Adelaide (Austrália) e antigo bolsista do Programa Fulbright na UCLA Semel Institute for Neuroscience and Human Behavior. “Estamos a converter sabedoria empírica em provas cientificamente relevantes conforme é exigido pelos médicos para recomendação terapêutica para os seus pacientes”, disse.
O estudo de Helen Lavretsky e Harris Heyre incidiu em participantes que reportaram problemas de memória, tais como tendência para esquecer nomes, rostos, compromissos ou o local de objetos. As pessoas em estudo foram sujeitas a testes de memória e a exames de ressonância magnética no início e no final da investigação.
Onze participantes receberam uma hora semanal de treino de aperfeiçoamento de memória e realizaram exercícios durante 20 minutos por dia – exercícios de associação verbal e visual e outros métodos de nível prático para melhorar a capacidade de memória, baseados em técnicas de investigação.
Os outros 14 participantes tiveram aulas de kundalini yoga, durante uma hora, uma vez por semana, e praticaram 20 meditações kirtan kriya em casa, durante 20 minutos por dia. A meditação kirtan kriya, a qual envolve o cantar de mantras, movimento de mãos e visualização de luzes, é praticado há centena de anos na Índia como forma de prevenir a perda de capacidades cognitivas em adultos mais velhos, disse Helen Lavretsky.
Redução, também, da depressão e da ansiedade
Após 12 semanas, os investigadores comprovaram melhorias de grau semelhante em ambos os grupos relativamente à capacidade de memorização verbal – envolvida quando se trata de lembrar nomes e lista de palavras. Porém, aqueles que praticaram yoga-meditação mostraram um melhor aproveitamento no que se refere à capacidade de memória visual-espacial, usada para lembrar locais e na orientação quando se caminha ou conduz.
O grupo de yoga-meditação obteve igualmente melhores resultados em termos de redução da depressão e da ansiedade e uma maior resiliência e capacidade para lidar com o stress. Trata-se de um dado importante dado que a convivência com dificuldades cognitivas é emocionalmente difícil.
“Quando sofremos de perda de memória podemos ficar bastante ansiosos, o que pode nos levar à depressão”, disse Helen Lavretsky, também ela investigadora do Instituto Semel.
Os cientistas reportaram que as melhoras ao nível da memória observadas nos participantes correspondem a perceptíveis alterações verificadas na sua atividade cerebral. Através da utilização de imagens de ressonância magnética funcional (fMRI), os investigadores mostraram que os sujeitos de ambos os grupos apresentavam mudanças ao nível das ligações neurais, sendo que as alterações entre o grupo yoga-meditação era o único estatisticamente relevante.
Os investigadores atribuíram os efeitos positivos de “fitness cerebral” através do exercício da atenção plena a vários factores, incluindo a sua capacidade para reduzir stress e inflamações, melhorar os estados de humor e a resiliência e a incrementar a produção do factor de crescimento neurotrófico derivado do cérebro, uma proteína que estimula as ligações entre neurónios e o arranque da atividade da telomerase, um processo que substitui material genético perdido ou danificado.
“Se você ou os seus familiares estão a tentar melhorar a sua memória ou a prevenir os riscos do desenvolvimento de perda de memória, a prática regular de yoga e meditação pode ser uma solução simples, segura e não dispendiosa de melhorar o estado de forma do seu cérebro”, afirmou Helen Lavretsky.
O estudo em causa foi financiado pela Alzheimer’s Research and Prevention Foundation.