Cerca de 47% das nossas horas despertas são gastas a pensar sobre o que não se está a passar.
Por Steve Bradt
in Harvard Gazette | 11 de Novembro de 2010
As pessoas passam 46,9% do tempo em que estão acordadas a pensar em algo não relacionado com o que estão a fazer; e este divagar da mente, deixa-as, normalmente, infelizes. É o que o diz um estudo que desenvolveu uma Web app para iPhone para recolher 250 mil dados sobre os temas: pensamentos, emoções e ações.
A investigação, conduzida pelos psicólogos Matthew A. Killingsworth e Daniel T. Gilbert da Universidade de Harvard, foi apresentada esta semana no jornal Science.
“A mente humana é uma mente errante e uma mente errante é uma mente infeliz”, escrevem Killingsworth e Gilbert. “A capacidade de pensar naquilo que não está a acontecer é um feito cognitivo que tem um custo emocional”.
Ao contrário dos outros animais, os humanos passam imenso tempo a pensar sobre o que não se está a passar à sua volta – contemplando eventos que aconteceram no passado, que poderão acontecer no futuro ou que poderão nunca vir a ocorrer. De facto, a divagação parece ser o modo operacional pré-definido do cérebro humano.
Com a finalidade de monitorizar este comportamento, Killingsworth desenvolveu uma aplicação para iPhone que contactou com 2.250 voluntários, para perguntar – em intervalos aleatórios -, o seu estado de felicidade, o que estavam a fazer no momento e se estavam a pensar na atividade corrente ou sobre algo diferente: agradável, neutro ou desagradável.
Aos sujeitos foi-lhes dado a escolher entre 22 atividades comuns, como: caminhar, comer, fazer compras ou ver televisão. As respostas mostraram que, em média, as suas mentes divagaram durante 46,9% do tempo – e em nunca menos de 30% em qualquer das atividades, há excepção da atividade sexual.
“O divagar da mente está omnipresente, de forma transversal, em todas as atividades”, diz Killingsworth, estudante de doutoramento em psicologia em Harvard. “Este estudo mostra que a nossa vida mental está impregnada, num grau muito significativo, pelo não-presente”.
Killingsworth e Gilbert, professor de psicologia em Harvard, constataram que as pessoas eram mais felizes quando faziam amor, exercício físico ou conversavam; e eram menos felizes quando estavam a descansar, a trabalhar ou a usar o computador em casa.
“A mente errante é um excelente indicador sobre a felicidade das pessoas”, diz Kellingsworth. “Na realidade, a frequência com que a nossa mente deixa o presente, assim como para onde ela tende a ir, constitui um indicador melhor sobre a nossa felicidade do que as atividades em que estamos envolvidos”.
Os investigadores estimaram que apenas 4,6% da felicidade de uma pessoa num determinado momento era atribuível à atividade específica que ele ou ela estavam a desenvolver, enquanto que a mente num estado de alheamento do presente era responsável por cerca de 10,8%.
A investigação sugere que o divagar da mente era, em termos gerais, a causa – não a consequência – da infelicidade dos participantes.
“Várias tradições filosóficas e religiosas ensinam que a felicidade deve ser encontrada no momento, sendo que os seus praticantes são ensinados a resistir ao divagar da mente e a estarem presentes “aqui e agora”, escrevem Killingsworth e Gilbert no Science. “Essas tradições sugerem que uma mente errante é uma mente infeliz”.
Esta nova investigação, dizem os autores, indica que essas tradições estão corretas.
As 2.250 pessoas que participaram no estudo de Matthew A. Killingsworth e Daniel T. Gilbert têm uma idade compreendiada entre os 18 e os 88 anos, representando uma larga faixa do espectro socio-económico e profissional. 74% dos inquiridos são norte-americanos.
Mais de cinco mil pessoas usam atualmente o iPhone Web app.
Tradução de Raul C. Gonçalves
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