Por Joana Sampaio Carvalho | mindmattersmagazine
O número crescente de jovens a entrar nas universidades tem despertado uma preocupação relativamente aos vários factores de stress que lhe estão associados, principalmente aqueles relacionados com os exames finais de acesso às faculdades, um período caracterizado pelo estudo intensivo, com sessões que se prolongam pela noite a dentro, e uma sensação de insegurança em relação às notas finais. Por tudo isto, não é de surpreender que cerca de metade dos estudantes pré-universitários relatem um nível significativo de ansiedade em relação aos exames de acesso.
O estudo desenvolvido pela Dra. Julieta Galante e equipa, publicado na revista científica Lancet Public Health, avaliou os efeitos de um programa de 8 semanas baseado em mindfulness (PBM) em relação aos níveis de angústia aguda dos alunos durante a semana de exames finais. A finalidade dos investigadores foi apurar se a disponibilização de cursos de mindfulness a estudantes universitários poderia, de alguma forma, contribuir para aumentar a sua resiliência ao stress. O estudo teve lugar na Universidade de Cambridge, na Inglaterra.
Método
Os investigadores distribuíram aleatoriamente 616 estudantes pré-universitários (62% do sexo feminino, 66% caucasianos, 92% com idades entre 18 e 30 anos) em dois grupos: um, denominado grupo PBM, frequentou um programa baseado em mindfulness de 8 semanas, além do acesso aos serviços regulares de apoio à saúde mental; e outro (grupo de controlo) apenas com acesso aos serviços regulares de apoio à saúde mental. Todos os participantes foram pré-avaliados para excluir quaisquer sintomas graves de saúde mental.
O programa baseado em mindfulness consistiu em oito sessões semanais em grupo de 75-90 minutos cada, que incluíam meditação consciente, períodos de reflexão e exercícios interactivos. Os participantes deste grupo foram ainda incentivados a realizar uma prática diária de meditação com uma duração de 8 a 25 minutos.
Em relação ao programa regular de apoio à saúde mental, fazia parte o acesso, se necessário, aos serviços de aconselhamento universitário e ao Serviço Nacional de Saúde. Nenhum serviço de saúde mental foi oferecido aos participantes do grupo de controlo, a menos que estes procurassem a ajuda destes serviços.
Todos os 616 participantes foram convidados a completar um questionário de auto-relato sobre stress e outro sobre bem-estar no final da intervenção e durante a semana de exames. Após o preenchimento dos questionários, os participantes receberam incentivos monetários (US$ 4,50 no pós-intervenção e US$ 7,50 durante a semana de exames), os quais podiam ser atribuídos a uma instituição de solidariedade social. Quando os participantes PBM faltavam a uma sessão, eram contactados no sentido de apurar a existência de qualquer consequência adversa na sequência da sua participação no programa.
Cinquenta e um por cento (51%) dos elementos do grupo PBM participaram em pelo menos metade das sessões, tendo 74% dos participantes do estudo completado os questionários durante o período de exames. Os resultados foram analisados abrangendo todos os participantes, independentemente de terem ou não estado presentes em todas as sessões do programa.
Resultados
Os resultados mostraram que os participantes PBM apresentaram níveis de stress significativamente mais baixos (tamanho de efeito moderado) na semana pós-intervenção e durante a época de exames: 57% dos participantes do grupo de controlo relataram níveis clínicos significativos de angústia em comparação com os 37% dos participantes PBM – uma redução do risco em cerca de um terço dos participantes do programa baseado em mindfulness.
O grupo PBM reportou significativamente menos problemas a afectar o rendimento dos seus estudos ou experiência universitária em comparação com o grupo de controlo. Os participantes PBM relataram ainda níveis de bem-estar significativamente mais elevados tanto na pós-intervenção como durante a semana de exames. Finalmente, este grupo foi o que doou mais dinheiro para instituições de solidariedade social. Apenas um dos participante deste grupo comunicou um efeito adverso, relatando que a intervenção lhe trouxe à consciência questões indesejadas. O relatório omitiu se este efeito adverso foi leve ou grave.
Conclusões
Até ao momento, este é o maior estudo experimental realizado (com grupos aleatórios) numa população universitária. Os resultados indicam que uma intervenção baseada em mindfulness pode contribuir para uma redução dos níveis de angústia dos estudantes durante a semana de exames finais, bem como para aumentar uma atitude altruísta.
Apesar dos resultados promissores, este estudo apresenta algumas limitações. Uma vez que o grupo de controlo não teve um tratamento activo nem um controlo de placebo, não é possível provar a superioridade dos programas baseados em mindfulness em relação a outros programas de redução de stress. Pelas mesmas razões, os resultados positivos experimentados pelos participantes do grupo PBM não podem ser directamente ligados ao treino de mindfulness, pois podem se dever a outros factores, como o apoio do grupo ou a um aumento das expectativas.●