Meditação diática pode melhorar as relações?

Investigação recente indica existirem benefícios muito específicos na meditação a pares.

Por Jill Suttle | Berk Öztürk (ilustração)
in GreaterGood  ver artigo

Depois de anos de cepticismo, acabei por tirar um curso de meditação, juntamente com o meu companheiro. Não há dúvidas que isso me ajudou a estar mais calma e focada, parecendo até ter tido um efeito positivo na minha interação com as outras pessoas, inclusive com ele.

Depois do curso, passei a meditar todas as manhãs, mas comecei a sentir-me um pouco só. Sentia a falta de aproximação e relacionamento experimentados quando meditava com o meu companheiro.

Ora, como acaba de ser demonstrado, esses benefícios são bem reais. Um estudo recente conduzido pelo Instituto Max Plant, na Alemanha, indica que a prática da “meditação diádica” (quando duas pessoas meditam juntas) pode ajudar a criar um sentimento de maior proximidade e abertura em relação aos outros.

Bethany Kok, coordenadora do estudo, começou a interessar-se por esta forma de prática após ouvir alguns comentários sobre o potencial da meditação e os seus benefícios a nível social.

“Parecia-me que se a meditação em solitário era capaz de ensinar esse tipo de habilidade, então na forma acompanhada poderia fazê-lo ainda melhor”, disse.

Para testar essa teoria, um grupo de voluntários participou num curso de nove meses de meditação, desenhado em três módulos: aumentar o sentido de presença (consciência do momento presente), através da atenção à respiração e do rastreio do corpo; efeito pró-social (ou emoção) através da meditação metta (amor e generosidade), do treino da compaixão e da aprendizagem da aceitação das emoções difíceis; e perspectiva, pela observação e distanciamento entre o que são pensamentos e o que é a pessoa. Estes módulos fazem parte do ReSource Project do instituto alemão – um estudo transversal de observação sobre o impacto de diferentes práticas de meditação na saúde psíquica e habilidades sociais.

Durante a investigação, os participantes foram semanalmente divididos em pares, de forma aleatória, por forma a constituírem novos parceiros em cada exercício. Durante o módulo “efeito”, as duplas foram mudando à medida que partilhavam as suas emoções e sensações físicas ao recordarem experiências vividas, envolvendo tanto respostas de carácter difícil como de gratidão. Durante o módulo “perspectiva”, os pares foram trocando experiências recentes, a partir de diferentes perspectivas – enquanto um contava um determinado acontecimento o outro tentava inferir a perspectiva presente.

Antes e após cada módulo, cada elemento do grupo reportava o seu nível de aproximação social em relação aos demais parceiros e em que grau sentia vontade para partilhar informação de nível pessoal com eles (exposição). Os participantes classificaram igualmente o seu nível de motivação e envolvimento em relação a cada tipo de prática de meditação e em que grau gostavam de cada uma.

Os resultados mostraram que a participação nos exercícios de pares fazia aumentar os sentimentos de aproximação e, com o tempo, de vontade de exposição pessoal aos parceiros (isto apesar deles mudarem todas as semanas). Tal sugere que a meditação diádica ajuda, de uma forma geral, a fortalecer laços de relacionamento social, e não apenas em relação a um parceiro específico.

“Ao aumentarmos e encorajarmos sentimentos de aproximação e de exposição pessoal ao outro, estamos a lançar as bases para prevenir a solidão no futuro”, disse Kok. Se tal for verdade, acrescenta, a meditação diádica pode ser uma forma de ajudar as pessoas a evitar problemas de ordem física e psíquica associados ao isolamento social, como nos casos de funcionamento cognitivo diminuído, doenças cardíacas e mortalidade prematura.

De que forma meditar acompanhado cria sentimentos de aproximação? Kok acredita que durante uma banal conversa social, é frequente as pessoas passarem o tempo a pensar no que dizer, o que preferiam estar a fazer e a julgar a outra pessoa. Por outras palavras, a não estarem presentes. A meditação diádica oferece algo potencialmente diferente: aceitação das pessoas como elas são e uma atenção particularmente atenta.

De uma forma geral, os participantes não se mostraram menos motivados ou comprometidos com a meditação com parceiro do que com a forma tradicional, solitária, também incluída no programa. Na verdade, e isto constitui um dado interessante, é que até classificaram melhor os segmentos diádicos dos módulos relativamente às práticas solitárias, o que sugere tratar-se de um plus não apenas praticável mas com boa aceitação no treino da meditação. Entre todas as práticas, a diádica foi a mais bem classificada.

Estes resultados sugerem que acrescentar esta experiência à prática da meditação pode ser, de uma forma geral, benéfica, principalmente para aqueles que têm problemas de conexão com o seu semelhante ou sofrem de isolamento crónico, possibilitando o desenhar da prática meditativa adaptada a necessidades específicas.

“Usando uma metáfora, muitos desportos fazem bem ao corpo, mas cada um tem um efeito físico específico e único”, diz Kok. “Da mesma forma, muitas práticas contemplativas são benéficas, mas o que estamos a ver aqui é que esses benefícios dependem grandemente da prática que escolhemos fazer. E isto é um marco importante na investigação contemplativa”.
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Tradução para português por Mindmatters

 

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