Meditação alivia sintomas de stress em adolescentes

O stress na adolescência tem vindo a acentuar-se. Segundo um novo estudo, aprender mindfulness e auto-compaixão pode ajudar os jovens a lidar com o problema.
Por Jessica Morey
in Greater Good | 15 de agosto de 2016  ver artigo original
Num inquérito a nível nacional conduzido pela American Psychological Association em 2014, 31% dos adolescentes com idades compreendidas entre os 13 e os 17 anos afirmaram que o seu stress tinha aumentado nos últimos anos, tendo 42% revelado que aquilo que faziam para lidar com ele não era suficiente. Adolescentes que experimentam mais frequentemente stress são mais propensos à depressão e apresentam um desempenho académico pior.
Como pode, então, o adolescente melhorar o seu estado emocional durante este período turbulento da sua vida?
Muitos deles voltam-se para o exterior: amigos, família ou passatempos. Mas… e se eles se pudessem voltar para si próprios e encontrassem também aí o apoio que procuram? Num estudo recente publicado no Journal of Adolescense, o dr. Brian Galla da Universidade de Pittsburgh descobriu que a prática de mindfulness pode reduzir o stress e melhorar o estado de saúde e bem-estar geral nos adolescentes.
Neste estudo, realizado no verão de 2013, 132 adolescentes participaram num retiro de cinco dias de mindfulness, amor e solidariedade e de outras capacidades mentais e emocionais de sinal positivo, como a auto-compaixão e a gratidão. Os jovens aprenderam a melhorar os seus níveis de concentração e a aceitarem melhor o momento presente, bem como a adotarem uma atitude de atenção em relação a todos os seres humanos, incluindo eles próprios.
Os dias de retiro incluíram, de uma forma geral, meditação formal sentada, meditação em andamento, yoga e workshops. Os adolescentes participaram ainda em sessões de pequenos grupos de cinco a oito pessoas, com dois ou três facilitadores adultos. Nesses grupos, os jovens aprenderam e praticaram a interagir de forma mindful com os seus pares, ao mesmo tempo que discutiam sobre os seus pensamentos e sentimentos em relação à experiência de retiro.
Antes e após o retiro, os jovens responderam a inquéritos de avaliação sobre stress, sintomas de depressão e emoções negativas como ira e ansiedade. Simultaneamente, responderam também a inquéritos de avaliação de mindfulness, auto-compaixão, emoções positivas e sobre o seu sentido geral de satisfação. Três meses mais tarde, a equipa de investigadores entrou novamente em contacto com estes adolescentes, voltando a realizar o mesmo inquérito para avaliar o seu estado atual.
Os resultados foram claros: logo a seguir ao retiro, os adolescentes sentiram-se menos stressados e deprimidos e mais felizes, com mais auto-compaixão e mais satisfeitos com a vida. Mas mais importante ainda, os benefícios do retiro prolongavam-se no tempo. Três meses depois, os jovens continuavam a reportar que se sentiam melhor do que antes do início do retiro. Por outras palavras, estes adolescentes aprenderam habilidades durante o retiro que os ajudavam a lidar com o stress e com os outros desafios do dia-a-dia.
Que habilidades se mostraram mais efetivas em termos de bem-estar a longo prazo? Os resultados mostraram que a auto-compaixão era a chave, até mais que o mindfulness. Os adolescentes que cultivaram um maior sentido interno de bondade e compaixão em relação às dificuldades das suas vidas foram os que se mostraram menos stressados, menos deprimidos e mais satisfeitos em relação às suas vidas pós-retiro. No sentido de um esclarecimento ainda maior sobre o alcance destes resultados, um futuro estudo irá comparar adolescentes que estiveram em retiro com outros que nunca tiveram essa experiência.
Entretanto, de que forma podem outros adolescentes beneficiar desta experiência? Durante o retiro, os jovens participantes aprenderam a ser mais tolerantes consigo em relação a uma série de actividades que podem ser facilmente desenvolvidas no seu habitat natural.
Uma das práticas em que, por exemplo, esses adolescentes se envolveram todas as tardes foi a meditação amor-solidariedade. Este forma de meditação inicia-se com o cultivar de uma atitude de amor para consigo. Os adolescentes são encorajados a se focarem na respiração e a repetirem para si: “Que eu seja feliz – Que eu esteja em segurança – Que eu esteja calmo”. De seguida, a frase é alargada às pessoas queridas, depois às pessoas conhecidas e, finalmente, àqueles por quem eles sentem emoções negativas. O propósito desta prática é criar uma atmosfera de aceitação e de amor incondicional a começar pelos próprios.
Além disso, os adolescentes aprendem valências para se sentarem com as emoções e as entenderem enquanto manifestações de necessidade. Tal pode implicar um olhar curioso e amoroso aos próprios sentimentos pessoais durante as sessões de meditação. Isto não só cultiva a empatia para consigo, como encoraja também um entendimento crítico do stress; quando o adolescente está mais consciente do que está a sentir, está mais capaz de notar o que é que lhe faz despoletar ou acalmar emoções negativas.
Autocrítica destrutiva, solidão e sentimentos de incerteza em relação ao futuro são alguns dos maiores desafios que se colocam ao adolescente. Este estudo sugere que responder aos fracassos e às falhas pessoais com bondade, em oposição às críticas e à ruminação mental, é particularmente importante para o bem-estar emocional do adolescente. O stress pode levar o jovem a isolar-se, recusando-se a partilhar os seus conflitos com os outros; mas a auto-compaixão ajuda-o a perceber que todos têm conflitos e que, por isso, ele não tem que se sentir só.
Tradução de Raul C. Gonçalves
Sobre a autora:
Jessica Morey é diretora-executiva
do Inward Bound Mindfulness Education (iBme)
e orientadora de retiros para adolescentes da iBme.

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