Embora haja por aí uma quantidade enorme de informação científica acerca do nosso cérebro, Barry Boyce explica que ainda há tanta coisa que nós não entendemos.
Se você estiver em vias da aprender alguma coisa – um idioma estrangeiro, tirar um curso de gestão emocional de recursos humanos ou de meditação -, aquilo que pretende saber à partida é se isso lhe vai servir para alguma coisa, o porquê de o fazer e o que é que poderá obter com ele. Cada vez mais pretendemos que a resposta a estas perguntas sejam dadas, tanto quanto possível, em algum tipo de formato de dados. Queremos evidências. É isto que provavelmente explica o crescimento da popularidade do mindfulness nos últimos 30 anos, altura em que os investigadores começaram a estudar a sério os seus efeitos.
O casamento entre ciência e mindfulness tem sido uma coisa positiva. Ele tem ajudado a manter a discussão concentrada sobre para que é que serve o mindfulness em termos muito práticos. Mas, tal como acontece na maioria dos casamentos, existem áreas que mereciam mais atenção.
Por um lado, no nosso afã para obter explicação para tudo em termos tão simples quanto possível (como é que isto tudo funciona?) podemos ser levados a agarrar-nos a conclusões demasiado simplistas, tomando-as “verdades”. Alguns cientistas meus amigos ficaram tão fartos de ouvir falar sobre a função da amígdala que têm vontade de esganar a próxima pessoa que os aborde sobre o assunto (não de forma literal, mas quase). A amígdala é descrita como o centro emocional do cérebro (como se fosse uma criança hipersensível em forma de almôndega) e o córtex pré-frontal como a sede da função executiva (FE). A FE funciona como uma equipa de gente inteligente do MIT que vem por na linha a pequena e temível hiper-reativa amígdala. E o mindfulness serve para ajudar a FE a impedir que a amígdala tome conta do espetáculo.
É uma história engraçada e se ela conseguir impedir o João de dar um murro no Joaquim quando estão no parque infantil, então é tudo pelo melhor.
Este simplismo pode, no entanto, ofuscar algo verdadeiramente inspirador acerca do cérebro: as suas funções estão distribuídas de forma espantosa através das suas várias partes, estas são solicitadas através de uma complexa teia de ligações, as quais eventualmente nunca iremos compreender na totalidade. Trata-se de criar e recriar a realidade a cada momento. Não estamos perante uma máquina estática com várias componentes; trata-se, antes, de uma tempestade de actividade. Os neurocientistas por mim contactados recomendaram cuidado quando usamos modelos muito bonitinhos. O mapa não é o território. A verdadeira ciência faz-se, não a partir de um certo conhecimento de como as coisas funcionam, mas de uma curiosidade ilimitada sobre o que está a acontecer. Perguntas levam a respostas.
Vários cientistas envolvidos no estudo de mindfulness acham também desconcertante algumas afirmações feitas sobre a quantificação do que tem sido provado sobre a eficácia da atenção plena. Tal como os artigos publicados na revista científica American Psychologist de outubro de 2015, num número especial dedicado a este assunto, deixaram claro, a investigação do mindfulness ainda se encontra na sua infância e muitos obstáculos metodológicos precisam ser ultrapassados no sentido de fortalecer as nossas conclusões sobre o estudo de humanos que meditam. Os resultados mais recentes são encorajadores, mas se comparados com outros estudos, como os dos efeitos do exercício físico, ainda estamos a décadas do estudo do mindfulness poder ser considerado um campo maduro. Estamos a atravessar um tempo excitante para investigar cientificamente o mindfulness, mas sejamos claros sobre aquilo que desconhecemos. Trata-se de um princípio fundamental que ciência e mindfulness compartilham: manter a mente aberta.