in Mindful.org | 15 de Março de 2016
por Jae Ellard
Decidir abrir-se aos colaboradores e cuidar do seu bem-estar, é bom para eles, para si e para a empresa.
Já alguma vez viu a compaixão fazer parte dos requisitos para uma determinada função? Provavelmente não, uma vez que a maior parte das empresas não considera a compaixão uma competência e muito menos um requisito a ter em conta para os colaboradores. Mas, o que significa ser compassivo no trabalho? Pode ser algo tão simples como assumir, à partida, que as intenções dos outros são boas – mesmo quando algum assunto, não importa porquê, não corre como planeado -, em vez de os culpar ou confrontar. Apesar dos erros e da tensão que frequentemente emergem no trabalho, a maior parte das pessoas não acorda com um plano previamente delineado para agir como um idiota ou deixar os outros incomodados.
“Para muitas pessoas, os locais de trabalho são uma interrupção do tempo livre, uma forma de sofrimento remunerado”, diz Jon Ramer, fundador da Compassion Games, uma organização internacional dedicada à criação de jogos direcionados ao pensamento e ação compassivos no dia-a-dia. “Se mais empresas construíssem os fundamentos da sua cultura empresarial baseada na compaixão, as pessoas estariam mais satisfeitas e sentir-se-iam mais valorizadas no trabalho. Elas reconheceriam uma ligação entre os seus mais profundos valores humanos e a forma como tratam os outros – e são tratadas – no trabalho.”
Conseguir que as lideranças empresariais se interessem pela compaixão poderá ser difícil, porque, explica Jon Ramer, “calcular o impacto da compaixão e de como ele se traduz nos resultados é um conceito novo, o que dificulta a justificação de alocação de recursos para construir esta competência nas organizações.” Mas sem ela, os empregados esgotam-se, a gestão desgasta-se e os clientes sentem isso refletido na qualidade.
Quais são, então, alguns dos benefícios na criação de um local de trabalho mais harmonioso? “Quando os negócios se comprometem em cultivar compaixão, beneficiam ao demonstrar uma preocupação genuína sobre a cultura empresarial em que o negócio se desenvolve. Isto impacta não só na qualidade do serviço ao cliente, mas também na forma como os trabalhadores interagem entre si e com os fornecedores”, diz Ramer. A compaixão pode criar relações de camaradagem entre os empregados, com um impacto direto sobre a lealdade e retenção dos trabalhadores, bem como na fidelização dos clientes.
Na generalidade, a compaixão não é uma coisa fácil, principalmente no trabalho, porque, como seres humanos modernos, criámos uma cultura laboral a qual, genericamente, não contempla o fracasso e a humildade. No trabalho, procuramos reconhecimento através da “recolha de créditos”. Quando, seja porque motivo for, não nos são dados créditos, tornou-se um hábito atribuirmos as culpas a terceiros em vez de praticarmos a autocompaixão – através da autorreflexão, autorresponsabilização e da aceitação das nossas imperfeições. Ser compassivo significa ser vulnerável, o que quer dizer que não somos perfeitos. Num mundo frequentemente fixado em perfeição e reconhecimento, a vulnerabilidade pode levar a um sentimento de culpa, vergonha e constrangimento. Mas a compaixão é um risco que vale a pena tomar e que começa a ganhar aceitação nos locais de trabalho, contando para isso com a ajuda de trabalhos como os de Brené Brown, autora de A Coragem de Ser Imperfeito, e de Marshall Rosenberg Comunicação Não-Violenta.
Compaixão no local de trabalho não é diferente da compaixão noutro lugar qualquer. Começa com uma escolha simples. A escolha de estar aberto a sentir aquilo que os outros sentem ou, no mínimo, ao reconhecimento de que as pessoas não se apresentam com a intenção de serem más, difíceis ou rudes. Os seus colegas podem estar a passar por momentos difíceis: pais solteiros, problemas de saúde, divórcios, mortes… A verdade é que desconhecemos a experiência dos outros até nos relacionarmos no espaço comum de trabalho. Assim, da próxima vez que as coisas não estiverem a correr de feição, respire fundo e assuma que as intenções dos seus colegas são positivas.
Tradução de Raul C. Gonçalves