In University of California.org | 23 de março de 2016
Um programa de dieta e exercício físico que incluía a prática de mindfulness resultou em participantes com menos factores de risco metabólicos em comparação com outro grupo sob o mesmo programa mas sem prática de mindfulness, de acordo com um estudo conduzido por investigadores na Universidade da Califórnia, São Francisco (UCSF).
Factores de risco ao nível do metabolismo, incluindo a aumento do diâmetro abdominal, pressão arterial alta, alta taxa de açúcar e triglicéridos no sangue e um baixo nível do HDL (colesterol “bom”). A presença de, pelo menos, três destes factores de risco remete para um diagnóstico de síndrome metabólico, uma situação que faz aumentar as probabilidades de doenças cardíacas, diabetes tipo II e AVC.
No estudo, publicado em março último pela revista Obesity, 194 adultos com obesidade foram divididos em dois grupos. Ambos foram submetidos ao mesmo programa de dieta e exercício físico, o qual incluía informação sobre alimentação saudável e exercício. Um dos grupos recebeu informação adicional sobre nutrição e exercício físico, acompanhada de técnicas de relaxamento e comportamento cognitivo para combate ao stress; o outro grupo participou num programa direcionado para a “atenção à experiência no momento presente, incluindo o ato de comer e pensamentos e emoções relacionados.”
“A prática de comer com atenção plena promove consciência às experiências relacionadas com o desejo de comer, efetivas sensações de fome, saciedade, satisfação e prazer” – diz a principal autora do estudo, Jennifer Daubenmier, Ph.D., do Osher Center for Integrative Medicine, do Center for Obesity Assessment, Study and Treatment e do Departamento de Medicina da UCSF.
Embora a diferença de perda de peso entre os dois grupos não fosse estatisticamente significativa, após seis meses de programa os participantes em mindfulness apresentaram rácios mais baixos de triglicéridos/HDL; e, após um ano, taxas menores de açúcar no sangue.
A chave para o mindfulness: não-julgamento e gentileza
“Altos níveis de stress, estilo de vida sedentária e disponibilidade de comida altamente calórica e barata significa que é fácil cair no hábito de comer sem pensar” – diz Jennifer Daubenmier. “Frequentemente, damos por nós a comer em excesso, não porque estejamos com fome, mas porque a comida tem um aspecto ou um sabor apetitoso, porque estamos distraídos ou porque queremos aliviar sensações desagradáveis. Quando comemos em excesso podemos sentir culpa ou vergonha, e esse apetite insaciável pode entrar numa espiral descontrolada.
“A prática de mindfulness pode ser eficaz para – sem auto julgamentos – reconhecermos os nossos padrões de comportamento e, consequentemente, termos escolhas mais racionais sobre comida: quando, o quê e quanto comer de forma satisfatória e saudável”, diz Jennifer Daubenmier.
Em complemento à prática de comer com mindfulness, o programa de 22 semanas incluiu meditação, ioga, exercícios respiratórios e “gentileza amorosa”, onde cada um cultiva ativamente sentimentos de amor e gentileza para consigo e para com os outros.”
Dezoito meses após o início do programa, a equipa de investigadores verificou que os membros do grupo de mindfulness apresentavam um valor estimado de 4.1 mg/dl mais baixo nos níveis de açúcar no sangue em comparação com o do outro grupo. Acresce ainda que o rácio triglicéridos/HDL estimado era 0.36 mais baixo. Embora modesta, esta redução pode ser impactante em grupos de risco com síndrome metabólico – realça Jennifer Daubenmier.
Grupo mindfulness resiste mais facilmente aos doces
“Embora não tivéssemos instruído os participantes a evitar totalmente alimentos calóricos, incentivámo-los a consumir alimentos açucarados ou muito gordos em menores quantidades, por forma a caberem dentro dos seus objetivos calóricos, ou então notarem e respeitarem desejos fortes de comer.
“Estes resultados sugerem que a prática de mindfulness pode promover uma melhoria sustentada em alimentação saudável, podendo contribuir para melhorar a longo prazo alguns aspetos da saúde metabólica no contexto de programas comportamentais de perda de peso dirigidos à obesidade” – diz Jennifer Daubenmier.
O estudo contou com o apoio do National Institutes of Health, através do National Center for Complementary and Integrative Health e do National Center for Advancing Translational Sciences.