Os benefícios de uma gravidez mindful

Por Juli Fraga

     Muitas mulheres grávidas mostram preocupação em relação à dor física do parto. Um novo estudo sugere que a inclusão  técnicas de mindfulness na educação para o parto pode ajudar as “mães de primeira viagem” a lidar com os seus receios. A investigação, publicada na revista BMC Pregnancyand Childbirth, indica ainda que o mindfulness pode ajudar a diminuir os sintomas de depressão pré e pós-parto.

    O mindfulness, definido como atenção consciente ao momento presente, tem-se mostrado eficaz na gestão da dor crónica, da depressão e da ansiedade. Este trabalho, embora de dimensões reduzidas, é um dos primeiros a debruçar-se sobre como tais habilidades podem beneficiar as mulheres durante a gravidez.

    “O medo do desconhecido afecta toda a gente, facto que pode ser particularmente relevante no caso da mulher grávida”, disse Larissa Duncan, investigadora principal do estudo e professora associada de Estudos da Família e Desenvolvimento Humano na Universidade de Wisconsin-Madison.

    O estudo incluiu 30 mães pela primeira vez no terceiro trimestre de gravidez. Cada uma completou uma série de questionários: um antes do início do estudo, outro após completar o curso e um último após o parto. Muitas das participantes indicaram preocupação em relação à dor do parto, enquanto outras mostraram-se receosas em relação à depressão pós-parto.

    Um estudo anterior mostrou que as mães de primeira vez com receio do parto eram mais propensas a terem trabalhos de parto mais longos (mais 47 minutos, em média) do que as que não sentiam medo.

     Embora haja muitas mulheres a frequentar cursos de preparação para o parto como forma de aprendizagem sobre o processo de nascimento, muitos desses cursos não ensinam as habilidades necessárias a lidar com a ansiedade que lhe está associada. De acordo com a Dra. Duncan, em alguns casos essas aulas até podem ter um efeito adverso.

    “Cursos que apenas incluem informação sobre o trabalho de parto e o parto propriamente dito podem fazer com que as mães que experimentam as sensações de parto pela primeira vez se sintam ainda mais ansiosas”, disse.

    Intrigada sobre se as habilidades mindfulness poderiam ajudar as mulheres a gerir este tipo de ansiedade, a investigação distribuiu aleatoriamente metade das participantes (grupo de estudo) em um workshop sobre parto consciente, com o nome de Mind in Labor. A outra metade (grupo de controlo) foi inscrita em aulas tradicionais de parto.

    O Mind in Labor é um curso com a duração de um fim-de-semana desenvolvido por Nancy Bardacke, enfermeira e professora de mindfulness no Osher Center for Integrative Medicine of the University of California, San Francisco, Medical Center. Durante o curso é ensinado às gestantes a aplicação de técnicas de mindfulness no processo de parto, inclusive para lidar com a dor e o medo. Os companheiros de parto também aprendem a dar conforto e apoio através de técnicas de mindfulness.

    “Ensino as mulheres e os seus parceiros que as dores durante o parto vão e vêm e que os intervalos entre as contracções são tempos de calma e relaxamento”, disse Bardacke, acrescentando que a chave para controlar os medos está em aprender a permanecer ancorada ao momento presente sem preocupações em relação ao passado ou ao futuro. Uma das formas de passar este ensinamento é pedir aos participantes para segurarem nas suas mãos cubos de gelo enquanto prestam atenção à respiração. Isto, segundo Bardacke, permite-lhes experienciar a natureza temporária das sensações físicas desagradáveis.

     Também são introduzidas, além de práticas básicas de meditação mindfulness, como meditação sentada e em movimento, e yoga, práticas informais, como comer com atenção plena.

    “A prática de mindfulness oferece uma oportunidade para a descoberta de recursos internos de força e resiliência até então desconhecidos”, diz Bardacke. “Por alturas do fim do workshop, os níveis de confiança das participantes aumenta e os seus receios começam a desvanecer-se. Elas, agora, estão cientes que, independentemente do grau de dificuldade em dar à luz, trata-se de algo que elas conseguem gerir, momento a momento”.

    Depois de participarem no curso, as participantes do grupo de estudo disseram sentir-se mais preparadas em relação ao parto e menos propensas a usar medicação contra a dor (opiáceos) durante o trabalho de parto. Este grupo também apresentou níveis mais baixos de sintomas de depressão pré e pós-parto do que o grupo de controlo que participou em aulas tradicionais de parto. De acordo com a American Psychological Association, factores biológicos, como as alterações hormonais, podem afectar o risco de depressão de uma mãe. Esta associação afirma ainda que a mulher pode experimentar dificuldades durante o período pós-parto enquanto se ajusta ao seu novo papel de mãe. Os resultados deste estudo sugerem que a habilidade de mindfulness pode ajudar a mulher a gerir melhor os sintomas da depressão pré-natal, ensinando-a a lidar com as novas questões da maternidade.

    “A futura mãe poderá sentir-se como se fosse obrigada a controlar e a gerir todos os aspectos da experiência do nascimento”, disse Carla Naumburg (que não esteve envolvida no estudo), especialista em parentalidade mindful e assistente social em Newton, Massachussets. “Elas estão frequentemente preocupadas em relação ao futuro, o que não só pode afectar o parto, como tornar a parentalidade mais difícil”. Segundo a Dra. Naumburg, o mindfulness pode ajudar as mulheres a permanecerem presentes e receptivas à sua experiência de parto, o que as poderá ajudar a aliviar o seu sofrimento físico e emocional.

    “Ao aprenderem habilidades de mindfulness como parte da sua educação para o parto, as mães expectantes podem reavaliar o nascimento iminente como uma coisa com que são capazes de lidar e não como algo a temer”, disse Duncan. ●

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