Estudo publicado no Journal of Clinical Psychology reforça a ideia da importância
da prática diária de mindfulness.
Por Joana Sampaio Carvalho* | Julie Varoquier (ilustração)
in Mindmatters magazine No. 4
As intervenções baseadas em mindfulness (IBMs) assentam no pressuposto de que a prática aumenta as competências de mindfulness, contribuindo por sua vez para melhorar o bem-estar psicológico.
No entanto, a evidência científica nem sempre é clara neste domínio. Enquanto que alguns estudos indicam que a duração e a qualidade da prática estão positivamente associadas à melhoria das competências de mindfulness e ao bem-estar, outros sinalizam que não.
O cientista canadiano Julien Lacaille e colaboradores investigaram a relação entre a prática de mindfulness, as suas competências e o bem-estar. Para o efeito, foram estudados os diários de 117 participantes (80% mulheres, 86% caucasianos, 64% entre 30-50 anos) recolhidos ao longo de um período de 49 dias. O programa implementado foi o MBSR (redução de stress baseado em mindfulness), embora os períodos de prática de mindfulness em casa e em sala de aula tenham sido reduzidos de 45-60 minutos para 20-30 minutos.
Os participantes receberam mensagens de texto diárias, lembrando-os de completar os diários on-line, e onde eles indicavam terem ou não praticado, por quanto tempo e o grau de adesão às instruções. Para além disto, respondiam ainda a perguntas destinadas a avaliar a forma como estiveram atentos durante o dia, o seu grau de stress percebido e as emoções positivas e negativas.
Resultados Os participantes, em média, completaram 33 registos, praticaram 28 dias durante 29 minutos/dia e classificaram a sua adesão às instruções como “6.8” numa escala de dez pontos. Foi relatado um aumento do nível de atenção consciente, menor stress percebido e um efeito mais positivo nos dias em que realizavam a prática de mindfulness em comparação com os dias em que o não faziam. A prática de mindfulness, a duração e adesão à prática mais longa estiveram sempre significativamente associadas a maior atenção consciente, menor stress percebido, mais afetos positivos e menos afetos negativos.
Verificou-se também que a prática de mindfulness estava associada ao aumento das suas competências, e que, por sua vez, este aumento estava associado à diminuição do stress.
Os participantes que fizeram a prática de mindfulness por períodos mais longos ao longo dos 49 dias relataram ser significativamente mais conscientes e ter significativamente menos afetos negativos do que aqueles que praticaram por períodos mais curtos.
Conclusões Estes resultados suportam a hipótese de que a prática de mindfulness é um factor fundamental das IBMs, indicando que aqueles que praticam durante mais tempo e de forma mais consistente sentem-se melhor. Os resultados reforçam ainda a importância da realização da prática diária, uma vez que os participantes se sentiram mais conscientes e melhor nos dias em que praticavam mindfulness.
Dado tratar-se de um estudo correlacional os resultados reforçam a associação entre a prática mindfulness, as suas competências e o bem-estar, mas não a relação de causalidade entre estas variáveis. ●
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*Psicóloga e Investigadora