O que é e por que diz a ciência que se trata de uma prática prejudicial à nossa vida.
Por Emma Seppälä
in The Washington Post
Phubbing significa deixar de dar atenção a quem está connosco a favor do smartphone. Uma experiência que, de alguma forma, já todos vivemos, seja como vítimas seja como “agressores”. Porém, já nem notamos, pois este comportamento passou a fazer parte do nosso quotidiano. Um estudo recente revela o impacto profundo que esse tipo de desprezo por quem está do nosso lado pode ter nas nossas relações e bem-estar.
Não deixa de ser irónico que no momento em que deixamos de dar atenção ao nosso parceiro, a favor do nosso telemóvel, estamos a conectar com alguém através das redes sociais ou por mensagens de texto. Folheamos fotos, como se olhássemos para um álbum, recordando momentos com pessoas que amamos, sem darmos conta do quanto isto está a prejudicar severamente os nossos relacionamentos reais, em pessoa, os quais são certamente os mais importantes.
Num estudo intitulado “A minha vida tornou-se numa grande distração do meu telemóvel”, Meredith David e James Roberts sugerem que o uso excessivo destes aparelhos quando se está na presença de outras pessoas pode levar a um declínio de um dos relacionamentos mais importantes que podemos ter, enquanto adultos: aquele com o nosso parceiro de vida.
De acordo com um estudo com 145 adultos, o phubbing diminui a satisfação conjugal, em parte porque leva a um conflito sobre o uso do telemóvel. Um estudo realizado por cientistas chineses acompanhou e avaliou 243 adultos casados com resultados semelhantes: o phubbing de um dos elementos do casal contribuiu para uma maior probabilidade de depressão. Este comportamento também se reflete a nível das amizades. Não é surpreendente que, para quem foi vítima de phubbing, os utilizadores de telemóveis sejam vistos como pessoas menos educadas e atenciosas. Intuitivamente sabemos (e que os estudos do cérebro confirmam) que quando o olhar vagueia a mente vagueia também. Sentimo-mos desrespeitados, desconsiderados.
Um conjunto de estudos mostrou que só o facto de mantermos um telemóvel à vista durante um encontro (como, por exemplo, em cima da mesa) interfere com o sentido de conexão e proximidade com a outra pessoa e a qualidade da conversa. Especialmente nos assuntos mais relevantes, perde-se a oportunidade de uma conexão verdadeira e autêntica com o outro, princípio fundamental de qualquer amizade ou relacionamento. Estas conclusões são válidas, independentemente de idade, etnia ou género. Sentimos mais empatia quando os smartphones estão guardados.
O que faz todo o sentido. Porque quando estamos ao telemóvel não estamos a olhar para as pessoas, não estamos a ler as suas expressões. Não conseguimos escutar as nuances no tom de voz, nem nos apercebemos da sua expressão corporal. Então, como é que reagem os que são vítimas de phubbed ao serem ignorados?
De acordo com um estudo publicado em Março do ano passado, eles próprios começam a recorrer às redes sociais. Presumivelmente, fazem-no em busca de inclusão. Poderão recorrer ao telemóvel como forma de alheamento em relação aos sentimentos dolorosos de serem socialmente negligenciados. Sabe-se, através da análise de imagens cerebrais, que a exclusão é registada como uma dor física real no cérebro. As pessoas desprezadas em favor da tecnologia, tornam-se, por sua vez, mais propensas a uma utilização não-saudável dos seus telemóveis, aumentando assim os seus próprios sentimentos de stress e depressão.
“Não deixa de ser irónico que os telemóveis, originalmente projectados como uma ferramenta de comunicação, em vez de estarem a promover a conexão interpessoal possam estar agora a impedi-la”, escrevem David e Roberts no seu estudo Phubbed and Alone. Os resultados sugerem a criação de um círculo vicioso: nas redes sociais, um indivíduo phubbed, transmite o seu comportamento compulsivo a outras pessoas, perpetuando e normalizando a prática e o problema de phubbing.
Mas, o que leva, antes de tudo, uma pessoa a adquirir o hábito de phubbing? Não surpreendentemente, o medo da perda e falta de auto-controlo. No entanto, o factor mais importante é o vício – em relação às redes sociais, ao telemóvel e à internet. A adição à internet tem correlatos cerebrais semelhantes a formas fisiológicas, como os vícios de heroína e de outras drogas recreativas. O impacto desse vício é particularmente preocupante nas crianças, cujos cérebros e habilidades sociais ainda estão em desenvolvimento.
O desejo de verificar as redes sociais é mais forte do que o desejo pelo sexo, de acordo com uma investigação de Wilhelm Hoffman da Universidade de Chicago. Uma descoberta que, de certa forma, não constitui surpresa. Somos seres profundamente sociais para quem a conexão e o sentimento de pertença são cruciais para a nossa saúde e felicidade (a sua falta é pior do que o tabagismo, a hipertensão arterial e a obesidade). Procuramos conexão nas redes sociais, em desfavor das oportunidades de contacto presencial para uma verdadeira intimidade.
A atenção que leva à tomada de consciência é a única solução para este problema. Entender que o que nos motiva é um sentimento de conexão e pertença. E, embora, não seja possível controlar o comportamento dos outros, temos nas nossas mãos a oportunidade de fazer diferente.
Investigação de Barbara Fredrickson, no seu livro Love 2.0, sugere que a intimidade acontece em micro-momentos: conversando durante o pequeno-almoço ou no sorriso de uma criança. A chave é estar presente e consciente. Um estudo revelou que somos mais felizes quando estamos presentes, independentemente do que estamos a fazer. Conseguimos estar presente com a pessoa que está à nossa frente, agora, não importa quem ela seja?
A forma primeira e mais íntima de conexão é o contacto visual. A postura e as expressões faciais (o aperto dos nossos lábios, os olhos sorridentes, as sobrancelhas viradas para cima em simpatia ou desculpa) comunicam mais do que as palavras. Mais importante ainda, elas estão na raiz da empatia – a capacidade de sentir aquilo que a outra pessoa está a sentir – o que é tão fundamental para uma conexão humana autêntica. É preciso coragem para se conectar, de forma verdadeira, com outra pessoa, mas essa é também a chave para a realização.
E se alguém à sua frente der mais atenção ao telemóvel do que a si? Paciência e compaixão são fundamentais nesta situação. Compreenda que a pessoa não está provavelmente a fazer isso com a intenção de o magoar, mas que está a seguir um impulso (às vezes irresistível) para se conectar. Assim, como acontece consigo, o seu objectivo não é excluir. Pelo contrário, ele está à procura de uma sensação de inclusão. Afinal, há um estudo sociológico bem revelador que mostra que a solidão está a aumentar a um ritmo alarmante na nossa sociedade.
Além disso, idade e género desempenham um papel diferente nas reacções das pessoas a esse comportamento. De acordo com vários estudos, participantes mais velhos e pessoas do sexo feminino defendem um uso mais limitado do telemóvel na maioria das situações sociais. Segundo os estudos, os homens diferem das mulheres na medida em que consideram socialmente mais aceitável o uso do telemóvel em praticamente todas as situações, incluindo as mais íntimas. Da mesma forma, os estudantes do sexo masculino acham que as drogas têm muito menos impacto na sala de aulas do que as suas colegas do sexo feminino.
Talvez ainda pior do que nos desconectarmos dos outros, o vício da internet e o phubbing desconecta-nos de nós próprios. Mergulhados num mundo virtual, perdemos o contacto com as nossas necessidades mais básicas de sono, exercício físico e até de alimentação.
Da próxima vez que estiver com outro ser humano e se sentir tentado a puxar do seu smartphone… pare! Olhe-o nos olhos e escute o que ele tem para lhe dizer.
*Emma Seppälä, PhD, Science Director, Stanford Center For Compassion And Altruism Research And Education. Co-Director Wellness, Yale Center for Emotional Intelligence.
Autora de “The Happiness Track”