O tipo de linguagem que escolhemos usar reflete a nossa predisposição implícita. Mas, segundo um novo estudo, o mindfulness pode ter uma palavra a dizer.
Por Jenn Director Knudsen | Calef Brown (ilustração) in Greater Good | 5 de outubro de 2016 ver artigo original
A linguagem pode ser reveladora das nossas crenças e preconceitos escondidos: os homens são melhores do que as mulheres nas ciências; as loiras são menos inteligentes do que as morenas; os negros são mais violentos do que os brancos…
A ciência, entretanto, vem dando indicações que o mindfulness pode ajudar a contrariar a predisposição implícita. Um estudo recente, publicado na revista científica Mindfulness, sugere mesmo que a prática da atenção plena pode ser eficaz mesmo em relação à predisposição implícita escondida na nossa linguagem.
A ciência chama a isto de preconceito linguístico intergrupos (LIB, sigla em inglês). Significa que as pessoas caracterizam, de acordo com as suas expectativas, o comportamento dos indivíduos pertencentes ao “grupo interno” (o grupo dos “meus”) como positivo e o do “grupo externo” (o grupo dos “outros”) como negativo; consequentemente, vêm o comportamentos dos “outros”como reflexo de carácter e esse julgamento aparece refletido na sua escolha de palavras.
Para medir o LIB, os investigadores pediram a 84 estudantes da Universidade Emory que atribuíssem descrições a desenhos de adultos em diferentes situações. Por exemplo: uma imagem de uma pessoa a agredir outra e duas descrições possíveis: “uma pessoa a bater noutra”; ou “alguém a ser agressivo”. A primeira é factual e precisa; a segunda infere um carácter.
A haver preconceito, a tendência é fazer uma descrição factual quando a ilustração representa alguém do intragrupo (“dos nossos”) e uma com julgamento quando representa “os outros”. E foi exatamente isso que a equipa de investigação encontrou quando foi pedido aos participantes que imaginassem os personagens como amigos ou inimigos, entrando o grupo numa construção de pensamentos e emoções em relação à imagens.
Mas seria o mindfulness capaz de alterar esta dinâmica? A um outro grupo integrado no mesmo estudo foi pedido um olhar mindful às ilustrações, isto é, que observassem os seus pensamentos enquanto construções mentais passageiras e não como fazendo parte do que estava retratado no desenho. Neste grupo, a tendência para dar respostas preconceituosas diminuiu.
Frequentemente, os estereótipos – seja sobre aparência individual, comportamento, valor (ou ausência dele) académico – estão profundamente enraizados, fruto de anos de pensamento preconceituoso. O mindfulness parece ser um poderoso antídoto ao preconceito linguístico no curto e (esperam os investigadores), com mais prática, no longo prazo.
“Independentemente das nossas intenções, a linguagem que utilizamos pode, de forma implícita ou explícita, transmitir predisposição na forma de estereótipos e de preconceitos”, escrevem Lauren Ann Lebois (Faculdade de Medicina de Harvard), Moses Tincher (Emory) e Lawrence Barsalou (Universidade de Glasgow). Mas “as evidências recolhidas sugerem que o mindfulness reduz estereótipos e preconceitos a nível cognitivo”.
Interagir com pessoas diferentes de nós (membros do grupo exterior) pode causar stress, sendo que é aqui que o mindfulness tem um papel a desempenhar. Para além de agir junto à predisposição implícita, suspendendo o nosso pensamento-padrão inicial, pode também alterar a nossa resposta física. Relegar os pensamentos preconceituosos para a categoria de “meros pensamentos” em trânsito pode reduzir a sua influência. Tal como a máquina de escrever é uma coisa do passado, o mesmo pode acontecer com as palavras preconceituosos ditas da boca para fora.