Como dois minutos de mindfulness podem acalmar uma sala de aulas e melhorar o desempenho

O mindfulness ajuda os estudantes a lidar com o stress académico e com a pressão da vida extramuros. Matthew Jenkin examina os benefícios da reflexão em silêncio na educação.
por Matthew Jenkin
in The Guardian – 3 de junho de 2014
Os budistas têm vindo a praticar mindfulness há mais de dois mil anos, mas a técnica de se focar no momento presente vinha sendo desvalorizada pelos cientistas como uma balela new age. No entanto, agora, o ocidente está finalmente a despertar para os benefícios da meditação oriental e as escolas estão a descobrir que uma dose diária de reflexão silenciosa pode não só acalmar uma turma como aumentar o seu desempenho académico.
Nos anos mais recentes, a medicina tem descoberto até que ponto o mindfulness pode ajudar no tratamento de uma série de estados mentais, desde o stress à depressão. Enquanto a maior parte dos estudos tinha-se centrado em adultos, novas pesquisas têm mostrado que o mindfulness pode melhorar a saúde mental, emocional, social e física e o bem-estar dos jovens. Neurocientistas descobriram que a prática a longo-prazo altera a estrutura e o funcionamento do cérebro, melhorando a qualidade dos pensamentos e emoções.
Não é, por isso, de estranhar que os professores estejam cada vez mais interessados nos potenciais benefícios do mindfulness aplicado a estudantes.
Caroline Woods dá aulas ao 1º e 2º Anos na escola primária “The Dharma”, em Brighton, Inglaterra, e inicia as suas aulas todos os dias com alguns minutos de prática de mindfulness em silêncio. Segundo ela, conseguir que as crianças fiquem sentadas quietas e em silêncio não é a luta que se possa imaginar. Os alunos até vêm com agrado uma altura em que tudo o que têm que fazer é parar, estar calmos e prestar atenção.
Embora o ensino seja baseado nos valores budistas, Caroline Woods realça que a prática não é sobre religião ou filosofia, trata-se, sim, de ganhar controlo sobre pensamentos e emoções negativos. Estas competências não apenas ajudam os jovens a lidar com o stress académico, mas também a enfrentar melhor as dificuldades do crescimento e as pressões do dia-a-dia fora dos limites da escola.
“Todo o processo de mindfulness tem repercussões  no sentido de deixar as pessoas mais abertas e receptivas”, explica Caroline Woods. O que estamos a tentar fazer é ajudá-los – sem juízos de valor -, a serem mais conscientes de si mesmos. Quando chega a altura dos alunos deixarem a escola, no 6º Ano, eles já adquiriram uma inteligência emocional e uma série de competências que os equipa melhor para lidar com o dia-a-dia da vida.”
Embora a forma mais comum de praticar mindfulness envolva estar sentado e seguir a respiração, esta pode ser adaptada para focar a atenção nos atos de comer, ouvir música ou caminhar. O segredo está em encontrar a técnica que seja mais apelativa aos alunos.
Segundo Katherine Weare, professora emérita das universidades de Exeter e Southampton – observatório de transtorno de humor, uma das formas mais efetivas de praticar mindfulness é fazer um brevíssimo intervalo naquilo que se está a fazer. Isto pode ser feito na escola, ao convidarmos os estudantes a interromperem uma atividade, fecharem os olhos e notarem o que lhes está a acontecer física e mentalmente, no momento; depois, mudar o foco da atenção para a respiração e no sentir do contacto com o chão. Pode demorar apenas dois minutos, mas uma vez feito, os alunos ficam geralmente muito mais calmos para continuar as suas tarefas.
Katherine Weare, que tem trabalhado com pessoal ligado à Universidade de Exeter e de outras instituições do Reino Unido para promover o mindfulness nas escolas, descreve a prática como “um WD-40 da educação”, ajudando estudantes a encontrar a concentração necessária à realização dos seus objetivos académicos. Os factos – diz ela -, são que, em função disso, os resultados dos testes melhoraram e que as crianças capazes de sentar e respirar durante alguns minutos antes de começarem uma prova conseguem melhores resultados do que as outras.
Qualquer programa de mindfulness na escola deve, contudo, começar com os professores. A ex-docente Claire Kelly é diretora operacional do projeto Mindfulness nas Escolas, o qual oferece recursos e treinamento a professores. Segundo ela, é fundamental que estes assumam a prática como forma de dar o exemplo a seguir pelos estudantes.
“Se você mesmo não viver os princípios do mindfulness, os miúdos vão perceber, vai haver muito cinismo, e você vai, provavelmente, desmotivá-los”, disse Claire Kelly. O mesmo irá acontecer se lhes der uma maravilhosa lição de mindfulness e depois começar aos pontapés à fotocopiadora no corredor… eles vão registar.”
Assegurar-se de que a direção da escola está no mesmo barco é também fundamental. Se ela o apoiar é meio caminho andado.
No entanto, Claire Kelly alerta para que não se esperem resultados imediatos. Segundo a sua experiência, o impacto do mindfulness varia de estudante para estudante e é difícil saber quando é que ele começa verdadeiramente a ser assimilado. No entanto, alguns alunos irão apanhá-lo imediatamente e, nesses casos, ela aconselha a organização de um clube à hora do almoço para os muito interessados. E enquanto outros na sala possam parecer estar a sonhar acordados e alguns até acabem por adormecer, isso não quer dizer que eles nunca venham a usar as técnicas.
“Há uns anos, tive uma turma onde apenas um terço dela parecia estar verdadeiramente interessada na prática”, recorda Claire Kelly. “Cerca de três anos mais tarde, recebi uma chamada de um vigilante que me pediu que fosse rapidamente à sala de exames. Quando lá cheguei, para meu espanto, vejo aqueles mesmos alunos a praticarem meditação como preparação para o exame escrito que ia começar.
“Estamos a dar-lhes um “kit” de ferramentas. Se as vão usar ou não, cabe a eles decidir, mas as chances são que eles as utilizem em algum momento”, disse.
Tradução de Raul C. Gonçalves
http://www.theguardian.com/teacher-network/teacher-blog/2014/jun/03/mindfulness-class-students-education

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