Um novo estudo indica que o mindfulness ajuda os estudantes universitários a reagir ao mau desempenho e à auto culpa.
Por Adam Hoffman
in Greater Good | 5 de abril de 2016
Falhar nunca é fácil. Desde muito cedo somos condicionados a procurar a perfeição em áreas tão diversas como a capacidade atlética, a beleza física ou a remuneração salarial. Mas, talvez, em mais nenhum outro campo seja isto tão evidente como na educação, onde a pressão para se conseguir boas notas – para ter acesso, no futuro, a uma boa faculdade – pode começar a se fazer sentir nas crianças desde o jardim de infância. Neste meio de tanto stress, basta por vezes uma má nota para despoletar uma cascata de revezes e dúvidas sobre si próprio.
No entanto, um novo estudo aponta para que os estudantes estariam melhor preparados se possuíssem valências de mindfulness – consciência sem julgamentos e a cada momento sobre pensamentos, emoções e sensações. De acordo com a investigação, os indivíduos mais plenamente atentos são capazes de ultrapassar os pequenos contratempos e manterem a confiança em si próprios, em vez de deixarem que seja o fracasso a definir quem eles são.
“As pessoas são confrontadas com a adversidade a toda a hora” – afirma Adam Hanley, estudante de doutoramento em psicologia na Universidade Estadual da Flórida, e coordenador do estudo. “O nosso objetivo era apurar se o mindfulness ajuda os estudantes a serem mais resilientes e a encontrarem significado nas suas provações e atribulações, especificamente no que respeita à educação.”
No estudo, 243 alunos universitários foram avaliados pelo seu nível natural de mindfulness, o qual foi calculado pela sua tendência em observar e descrever experiências interiores (como emoções e sensações), para agir com consciência e de forma não impulsiva, bem como pela capacidade em evitar o julgamento autocrítico sobre as experiências.
Posteriormente, os estudantes foram submetidos a um teste múltipla escolha com 15 perguntas direcionadas ao conhecimento geral, como, por exemplo: ‘Quantos anéis tem a bandeira olímpica?’ ou ‘Em que mão a Estátua da Liberdade segura a tocha?’
Independentemente do seu real desempenho, foi dito a todos os estudantes que apenas tinham respondido corretamente a oito perguntas, com uma avaliação de 53%. Após o anúncio da fraca prestação, foi-lhes pedido que quantificassem o seu sentido de eficácia académica, definida como “confiança nas suas capacidades para enfrentar desafios” – explica Adam Hanley.
Os resultados, publicados no boletim Personality and Individual Differences, mostraram que os indivíduos com mais mindfulness apresentavam uma maior confiança nas suas capacidades académicas mesmo após um insucesso.
Mas como, exatamente, promove o mindfulness esta resposta resiliente a eventos negativos? Os investigadores mensuraram também a propensão dos participantes para reavaliarem acontecimentos causadores de stress – referidos no questionário como reavaliações positivas – classificando-os como “inócuos”, “positivos” ou “úteis”. Conforme se apurou, indivíduos com mindfulness mostraram maior disposição para se empenharem numa reavaliação positiva, encontrando significado e pontos positivos nas adversidades do dia a dia. Facto relevante, a análise do estudo revelou que esta tendência de resiliência era significativamente responsável pela razão causal “mindfulness mais elevado/maior confiança académica” após um insucesso.
Por noutras palavras, “era mais provável as pessoas com mais mindfulness encontrarem pontos positivos na adversidade, resultando daí uma maior autoconfiança nas suas capacidades após um insucesso” – resume Adam Hanley.
Outros indicadores sobre o mindfulness ser capaz de nos ajudar a lidar com as nossas falhas aparece num estudo realizado na Europa em 2015, o qual analisa o efeito da meditação mindfulness nas nossas reações à autocensura.
Nesta experiência, 22 praticantes de meditação (com curso e prática regular há, pelo menos, um ano) e 22 não praticantes, selecionaram, cada um, uma série de adjetivos de autocensura e de autoelogio que, segundo eles, melhor os descrevessem – por exemplo: pouco atraente ou atraente; desonesto ou honesto; estúpido ou inteligente.
Os participantes foram depois submetidos a um scanner fMRI – imagem por ressonância magnética funcional – e colocados perante as palavras positivas e negativas que tinham escolhido, precedidas da frase “Eu sou demasiado…” (para palavras de autocrítica) e “Eu sou muito…” (para palavras de autoelogio). À medida que cada palavra era apresentada, foi-lhes pedido que se focassem nas suas reações emocionais, ao mesmo tempo que era registada a sua atividade neutral. Após cada série de adjetivos, os indivíduos relatavam o seu estado de humor no momento.
Os resultados mostraram que os praticantes de meditação apresentavam, de uma maneira geral, uma maior ativação nas áreas do cérebro envolvidas no processamento emocional (como na amígdala) perante ambos os cenários (autocrítica e autoelogio), indicando que eles tinham experienciado na plenitude as emoções negativas; porém, de acordo com as pontuações obtidas na classificação de estados de humor observados pouco depois, este grupo apresentava-se significativamente menos afetado (emocionalmente), quer pelas experiências negativas como pelas positivas, em comparação com o grupo de não praticantes.
De acordo com os investigadores, tal pode ser resultado de um aumento do equilíbrio emocional que se acredita possa resultar da prática da meditação. Por outras palavras, os praticantes de meditação mostraram-se capazes de refletir os seus traços de personalidade, positiva e negativa, de uma forma mais objetiva e menos reativa; eles serão pessoas mais tolerantes e menos reguladoras em relação às suas reações emocionais. Tal ter-se-á refletido na observação de um aumento invulgar da ativação neural, acompanhada, no entanto, de uma resposta emocional menos acentuada.
“Nos casos em que os outros ficam a remoer acontecimentos durante mais tempo, os meditadores apresentam este estilo não reativo, o qual lhes permite ser menos dependentes em relação aos processos emocionais pessoais” – afirma Jacqueline Lutz, pós-doutoranda no Center for Mindfulness and Compassion da Universidade de Harvard e coordenadora do estudo europeu de 2015. “Se estivermos menos fixados numa determinada situação, mais facilmente regressaremos a um estado emocional neutro”.
Assim, embora os membros do grupo com mais mindful da investigação de Adam Hanley experienciassem inicialmente uma forte emoção negativa após um insucesso académico, a sua predisposição mindful facilitava uma resposta mais ponderada, menos dependente e emocionalmente mais equilibrada, o que obstava a que ficassem excessivamente desanimados.
Adam Hanley afirma que qualquer pessoa tem o poder de alterar os seus níveis diários de atenção plena: “Os indícios sugerem que a prática regular diária de mindfulness faz aumentar a disposição à atenção plena” – diz. “Portanto, a introdução da prática de mindfulness na educação deverá conferir capacidades de controlo emocional a par de resiliência académica”.
No seguimento, Adam Hanley espera utilizar estes resultados para advogar a introdução do mindfulness no contexto educativo e investigar a aplicação da atenção plena e de práticas de reavaliação positiva na ajuda a pessoas a lidar com eventos traumáticos.
“Há muitos jovens com dificuldades de aprendizagem – diz Adam Hanley. “Se conseguirmos encontrar vias para melhorar o seu desempenho, permitindo-lhes que reajam aos inevitáveis contratempos que acontecerão num meio académico, então poderemos ter esperança em manter os jovens na escola por mais tempo, de uma forma mais positiva e envolvidos no processo de educação”
Tradução de Raul C. Gonçalves