Segundo investigação conduzida pela dra. Sona Dimidjian, existe uma opção aos antidepressivos para lidar com a depressão pós-parto: a Terapia Cognitiva Baseada em Mindfulness.
Por Heather Grimes | Andrew Branch (foto)
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Imagine que está grávida e que durante uma consulta de rotina a sua obstetra lhe pergunta se tem alguma experiência de prática de mindfulness; e tudo isto depois de ela já lhe ter falado sobre a importância da nutrição, do exercício físico, do descanso e dos cuidados a ter consigo. Mas e quanto ao seu bem-estar psicológico, pergunta-lhe ela?
A drª Sona Dimidjian, professora do Departamento de Psicologia e Neurociência da Universidade do Colorado, defende um mundo onde este tipo de conversa seja regra. Um mundo onde a prática de mindfulness durante a gravidez seja tão comum quanto as vitaminas, o yoga pré-natal ou a leitura de livros como O Que se Espera Enquanto se Está à Espera, de Heidi Murkoff e Sharon Mazel.
O trabalho de Dimidjian com a Terapia Cognitiva Baseada em Mindfulness (MBCT, sigla em inglês) é extenso e prolonga-se há mais de uma década.
Há muito que esta investigadora da Universidade do Colorado tem vindo a desenvolver um trabalho de acompanhamento junta de mulheres grávidas com histórico de depressão, grupo este que está sinalizado como de maior risco de recaída durante o tempo de gestação e de pós-parto relativamente à generalidade da população feminina.
Segundo um artigo publicado em 2015 por Dimidjian e colegas no Journal of Consulting and Clinical Psychology, as mulheres em idade fértil representam o maior grupo demográfico em risco de depressão, sendo usados frequentemente antidepressivos para controlar esse estado durante a gravidez.
“Sabemos que podemos identificar facilmente as mulheres em risco”, revela Dimidjian. “A questão é se conseguimos ajudá-las a desenvolver as habilidades necessárias que as protejam de experimentar depressão durante esse período tão importante das suas vidas e das vidas dos seus bebés?”
Dimidjian juntou-se a Sherryl Goodman, professora na Universidade Emory, com estudos realizados sobre os efeitos em crianças de mães que sofreram de depressão. As duas investigadoras conduziram um primeiro trabalho, no Colorado e na Georgia, com 49 mulheres grávidas ou em situação de pós-parto há menos de um ano e com histórico de depressão, mas sem nunca terem experimentado qualquer episódio depressivo agudo, isto é, casos onde os cuidados preventivos se mostraram apropriados. Estas mulheres fizeram o programa MBCT comum e, baseado nas suas experiências, Dimidjian e Goodwin moldaram um programa específico para mulheres grávidas ou em pós-parto com histórico de depressão. A este programa foi-lhe dado o nome de MBCT-PD (sendo PD para perinatal, o período que antecede ou sucede o nascimento).
O ensaio aleatório seguinte foi mais alargado, com 86 mulheres dentro do mesmo critério do primeiro estudo. Metade do grupo recebeu aulas de 8-Semanas MBCT-PD e a outra metade foi submetida a um tratamento comum (TC). Foi apurado que as mulheres que receberam MBCT-PD apresentaram taxas de probabilidade de recaída 30% mais baixas do que o grupo TC.
Segundo Demidjian, “a gravidez constitui um repto. E se entrarmos nele levando connosco algum histórico de depressão, esse desafio pode tornar-se particularmente exigente”, disse.
A realidade da prática de mindfulness durante a gravidez
Tenho presente a minha própria experiência de gravidez e a inesperada ansiedade pós-parto, ambas acompanhadas de um enorme sentimento de alegria. Embora eu seja uma pessoa familiarizada com a meditação, ainda assim todas as minhas técnicas como que se esfumaram durante a gravidez, tão ocupada estava com o ‘processo de preparação’. Tal como as mulheres do estudo, também eu tenho um histórico de depressão, embora estivesse há anos sem quaisquer sintomas. No entanto, assisti a inúmeras mães a sentirem a mesma ansiedade e o mesmo tumulto interno, principalmente nos primeiros meses, independentemente dos históricos pessoais. Acredito que nos teria sido tremendamente útil se o MBCT-PD tivesse feito parte do nosso ‘pacote’ de cuidados pré-natais.
“Prestar atenção, momento a momento, à experiência é o aspecto principal da prática mindfulness”, realça Dimidjian. Ao longo das oito semanas do curso, as mulheres começam a desenvolver a habilidade para se focarem onde estão particularmente vulneráveis. Em alguns casos, isso significa tornarem-se conscientes da ansiedade e onde é que esta se manifesta no corpo e na mente; noutros, trata-se de estar ciente da tendência para prolongar pensamentos sobre o futuro.
Dimidjian refere cada caso particular de experiência de angústia como uma “assinatura de recaída”. Tornas-te mais consciente dos sinais que te sinalizam estar em maior risco, sendo o teu plano de prevenção de recaída um plano pessoal. E, tal como acontece frequentemente com a prática de mindfulness, quando a atenção aumenta numa determinada área da vida, a consciência expande-se a muitas outras. Uma mulher que é capaz de cuidar e de estar presente às suas próprias vulnerabilidades terá um acesso muito maior a essas mesmas habilidades quando chegar o momento de ser mãe.
“A gravidez é uma janela única onde a mulher tem a motivação e a oportunidade para aprender a habilidade de prestar atenção e cuidar de si de formas profundamente enriquecedoras”, diz Dimidjian.
Sabe-se que, dependendo de como uma mãe lida com os seus conflitos, isso poderá dificultar também a vida da sua criança. No entanto, ainda temos muito para aprender sobre até que ponto o facto de uma mãe saber cuidar de si – do seu bem-estar físico e psicológico – pode trazer benefícios de dias, meses ou até de anos para os seus filhos. E é precisamente nessa direção que a investigação de Sona Dimidjian se dirige.
A investigadora diz ter presentemente duas questões às quais dá a maior das prioridades: a primeira, como ser possível aumentar o número de mulheres com acesso a este treino? Será possível disponibilizar de forma alargada estas acções através das consultas de obstetrícia e dos cuidados pré-natais?; a segunda, até que ponto a oferta destas competências poderá ajudar as mães a proteger os seus filhos e a ‘equipá-los’ com habilidades de bem-estar duradouro?
Em resumo: acções capazes de trazer um sentido mais profundo de autoconhecimento e bem-estar às mães, permitindo-lhes, por sua vez, espelharem esse comportamento nos filhos. A partir daqui, já não é possível prever todo o seu desenvolvimento, mas podemos estar certos que terá reflexos no futuro.
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Tradução para português por Mindmatters