Por Dan Nixon
in Bank Underground | 25 de abril de 2016
A teoria económica assume geralmente que mais consumo significa mais felicidade. Este post coloca uma alternativa: “menos é mais”, uma perspectiva baseada no conceito de mindfulness. O argumento subjacente é que podemos atingir um maior grau de felicidade através da simplificação dos nossos desejos, em vez de os tentar concretizar. O resultado – menos consumo e mais bem-estar – pode ser particularmente importante para debater acerca da estagnação secular e da sustentabilidade ambiental.
O que é mindfulness?
Na última década assistiu-se a uma explosão de interesse sobre mindfulness, isto é “prestar atenção àquilo que está a acontecer ao nível da mente, do corpo e do ambiente externo no momento presente, mantendo uma atitude de curiosidade”. Este é o assunto de livros “best sellers”, de populares programas online e de reportagens de media de grande difusão. A ideia é que, ao ensinar as pessoas a serem mais focadas no momento presente (mormente através de simples exercícios de meditação), elas passarão a estar consideravelmente menos presas a pensamentos acerca do passado ou preocupadas sobre o futuro.
Foi reconhecido que a prática de mindfulness reduz a incidência da depressão, stress e ansiedade e é, atualmente, largamente utilizada por profissionais ligados à saúde mental. Mas a sua penetração vai muito além desse campo, com cada vez mais cursos de mindfulness oferecidos em escolas, nas forças armadas e nos locais de trabalho (incluindo o Banco de Inglaterra e vários bancos comerciais).
Que importância para a economia?
O mindfulness tem vindo a ser objeto de uma extensa investigação nas áreas da psicologia, neurociência, sociologia e filosofia. Para os economistas, alguns aspectos podem ser interessantes. Tem sido debatido de que o mindfulness tem um impacto direto sobre o bem-estar. A nível laboral, pode fazer disparar a produtividade através do aumento das capacidades cognitivas dos trabalhadores (e também pela redução do número de baixas ligadas a doenças do foro mental).
Porém, existem ainda outras lições a serem tiradas pela economia. Na sua raiz, o mindfulness pode ser entendido no que poderíamos chamar – passe o cliché – uma aproximação do tipo “menos é mais” na relação consumo/felicidade. A ser verdade, isto tem implicações profundas. Mas antes de avançarmos na exploração deste raciocínio, precisamos rever o pressuposto da teoria neoclássica de consumo de que “mais é mais”.
Homo economicus: mais é mais
O termo “homem económico” foi utilizado pela primeira vez no séc. XIX, em resposta aos escritos de John Stuart Mill, significando “um ser com desejos de possuir bens de consumo”. Desde então, homo economicus tem significado um indivíduo que age de forma racional para atingir os seus fins predeterminados, obtendo o máximo possível segundo a informação disponível.
Com o tempo, críticas ao homo economicus têm vindo de vários sectores. Estudos antropológicos sugerem que o comportamento humano em algumas sociedades divergem desta caracterização. Estudos sobre comportamento económico têm mostrado como, na realidade, as pessoas são melhores do que o modelo de homo economicus pode sugerir – o ser humano tem “outros interesses para além dos materiais” – e como esta discrição ignora os limites da informação detida pelas pessoas para basearem as suas decisões económicas (Matthew Rabin, 1998).
A ilusão do desejo: “menos é mais” desafia teoria económica
No âmago do “menos é mais” está o desafio à teoria de consumo, a compreensão dos nossos desejos. A chave inerente a esta aproximação é a de que podemos ser felizes ao procurar a simplificação dos nossos desejos em vez de os procurar satisfazer; o resultado é menos consumo, porém mais satisfação.
Para observarmos de onde surgem estas pretensões, olhemos rapidamente em direção à filosofia budista – de onde o mindfulness tem as suas origens -, particularmente a dois princípios fundamentais:
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Todos os nossos estados de espírito – felizes ou descontentes, seguros ou inseguros, etc. – são transitórios. Tal é particularmente o caso quando estes estados da mente se prendem mais diretamente em função de condições externas, tais como o comportamento das pessoas à nossa volta, ou dos bens que consumimos. A maioria das pessoas tende a concordar que quando obtemos aquilo que desejamos, isso nos deixa felizes, mas apenas por algum tempo; e, frequentemente, assim que passa o efeito novidade, um novo desejo apresenta-se a preencher esse vazio.
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À medida que nos habituamos a consumir mais (ou a acumular mais bens), é extremamente difícil a nível psicológico não sentir apego a uma certa quantidade de consumo (ou de riqueza).