Os drs. Matthew Skinta e Aisling Curtin são autores de um novo livro dirigido a psiquiatras e psicólogos sobre novas estratégias baseadas em evidências no tratamento e acompanhamento de casos de género e orientação sexual. Uma abordagem baseada numa visão de contexto da ciência comportamental, onde se inclui a teoria relacional, as intervenções baseadas em mindfulness e aceitação e as terapias focadas na compaixão e na aceitação e compromisso.
Por Jessica Dore/PsychCentral
Publicado em Mindmatters Magazine No. 1
Mindfulness & Acceptance for Gender and Sexual Minorities: A Clinician’s Guide to Fostering Compassion, Connection and Equality Using Contextual Strategies acaba de chegar às livrarias. Porquê este livro?
Matthew Skinta (MS): Apesar de achar que abordagens como a terapia da aceitação e compromisso, a psicoterapia funcional analítica e a terapia focada na compaixão encaixarem de forma natural nos casos de género e de orientação sexual, nunca consegui encontrar qualquer orientação específica dirigida a terapeutas. A investigação tem avançado muito ultimamente e o que eu quis fazer foi escrever o livro que eu próprio gostaria de ler.
Aisling Curtin (AC): Tal como Metthew, eu também queria escrever um livro de que gostaria ter lido, não só enquanto psicóloga clínica mas também como sendo parte integrante, eu própria, de uma minoria de orientação sexual. Assumi a minha orientação sexual já numa fase mais tardia da minha vida e sei como esse processo não é fácil nem direto. Um dos meus principais objetivos na vida é conseguir transformar as minhas próprias feridas em propósitos, razão porque quis canalizar essas experiências dolorosas sentidas por tanta gente pertencente a minorias de género e de orientação sexual para este livro.
Embora este seja um livro dirigido essencialmente a psicoterapeutas, poderiam ser um pouco mais específicos sobre quem poderá beneficiar com a sua leitura?
MS: Embora o livro tenha sido pensado para profissionais, investigadores e estudantes de psicologia, tenho tido notícias sobre pessoas leigas que o têm achado, a um tempo, inteligível e comovente. Uma vez que muitos dos psicoterapeutas que trabalham na área da identidade de género e orientação sexual são, eles próprios, membros dessa mesma comunidade, eu encorajo no livro a revelação da experiência pessoal, o que acaba por acontecer.
AC: Penso que este livro pode ser extraordinariamente útil como guia para terapeutas, educadores, famílias, amigos e para as próprias minorias sexuais.
Os capítulos do livro estão organizados segundo uma perspectiva contextualizada da ciência comportamental, utilizando práticas baseadas em mindfulness e aceitação como forma de aproximação a questões sentidas pela comunidade LGBT. Até que ponto estas práticas são apropriadas às necessidades desta comunidade, em particular, e também a outros grupos igualmente oprimidos?
MS: Esta é uma das partes que mais me motiva. Tem havido uma profusão de investigação sobre os tipos de vulnerabilidade associadas ao stress de minorias, sensibilidade à rejeição, etc. e de como essa desregulação emocional está na sua essência. A ciência do comportamento contextual aborda especificamente esses fatores.
AC: Um dos fatores que eu mais gosto na abordagem baseada na aceitação é que começamos do ponto em que estamos. Uma boa parte dos pensamentos e das emoções que as minorias de identidade de género e orientação sexual enfrentam baseia-se em casos vividos por eles e elas na vida real. A ciência do comportamento contextual é perfeita, uma vez que faz uma abordagem pragmática, porém compassiva, permitindo validação ao mesmo tempo que desafia as minorias LGBT a alterar padrões que lhes podem ser inadvertidamente prejudiciais.
A investigação valida as intervenções baseadas em mindfulness e na aceitação nos casos de género e de minorias sexuais?
MS: Essa é uma pergunta difícil de responder. Tem havido uma série de estudos-piloto fazendo a ligação entre variáveis e técnicas, que sugerem fortemente ser esse o caso, embora seja cada vez mais difícil obter financiamentos que permitam responder a essa questão com estudos solidamente desenhados. Penso que este livro poderá servir como pedra de toque e sinalizador à medida que os fundos para investigação sobre questões de identidade e orientação sexual se tornem mais disponíveis.
Em alguns estados norte-americanos é legal os psicoterapeutas recusarem pacientes LGBT. Acreditam que abordagens baseadas em mindfulness e aceitação podem contribuir para combater este modelo sistémico de iniquidade social?
MS: Políticas que permitem que prestadores de serviços causem tais danos a terceiros só ocorrem quando a maioria das pessoas deixa de acreditar na sua capacidade de compaixão para mudar este estado de coisas. Terminamos o livro com um capítulo sobre a defesa de causas: nas áreas da ciência, da motivação e no trabalho que tem sido feito para apoiar o ativismo social.
AC: As estratégias baseadas em mindfulness e aceitação podem ajudar muito no desenvolvimento e aperfeiçoamento de novas perspectivas, habilidades e capacidades. Os dados são claros quando indicam que a vergonha pode levar a ainda mais discriminação. Acredito que a perspectiva que é ensinada pelos métodos de mindfulness e aceitação pode ajudar a diminuir essa noção de “não ser dos nossos” que leva a tal discriminação.
Que partes do livro gostariam de realçar?
MS: Algumas das melhores surpresas foram, para mim, as mais inesperadas. Há, por exemplo, um capítulo sobre casais que passam de uma relação não assumida para uma exploração maravilhosa de como responder a comportamentos homofóbicos por parte de psicoterapeutas heterossexuais durante a terapia. Há também um capítulo sobre “o assumir”, onde Danny Ryu apresenta uma meditação sobre o desconforto da incerteza da orientação sexual ou da identidade de género com que os psicoterapeutas devem aprender a lidar.
AC: No geral, gostei muito das experiências pessoais e dos exemplos clínicos levados pelas pessoas como complemento à investigação e às entrevistas mais teóricas. Queria ainda destacar a forte presença neste livro da psicoterapia analítica funcional e do direito neste livro.
Um pensamento sobre “Mindfulness e aceitação nas questões LGBT”